quarta-feira, 21 de abril de 2010
ssshhh! Não vendemos produtos, vendemos felicidade!
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Sociedade de etiquetas
EU, ETIQUETA
Minhas meias falam de produtos.
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
Carlos Drummond de Andrade
Não poderia deixar de compartilhar esse poema (que eu adorei, por sinal), pois ele retrata bem a realidade em que estamos inseridos; as marcas fizeram da sociedade um "anúncio ambulante", a publicidade é quase como um feitiço na vida de cada um, criando necessidades que antes eram despercebidas ou nem existiam, mexem com as mentes e, de alguma maneira, deixam no nosso incosciente a sua mensagem, a idéia de comprar, comprar e comprar...
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Espiral do silêncio
Contagiante, não?
Política, economia, consumo, ecologia, moda... São muitos os assuntos que interessam a sociedade e que constituem bases para a formação da opinião pública. Os meios de comunicação de massa interferem ativamente na construção de pensamentos e opiniões, que acabam por "contaminar" um ao outro, quase como um "efeito manada" - o qual se refere à cópia de comportamento/ação entre as pessoas. Provocam, assim, a homogeneização das opiniões, ditam o que é certo e errado, pautando a vida dos indivíduos e dando a idéia de que é ela a responsável pela rotina de cada um (Teoria do agendamento/Agenda Setting).
Nesse mesmo contexto, a teoria da espiral do silêncio, pesquisa feita pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann, é relacionada com o silenciamento das pessoas frente às pressões da sociedade e da mídia. As opiniões divergentes - que não agradam a maioria - tendem a ser silenciadas, os indivíduos optam por não expressar o que pensam em troca de serem "aceitos" e "incluídos" na sociedade. Por outro lado, a teoria da epiral do silêncio pode ser vista como controversa e polêmica, pois não se sabe se esse estudo se aplica a qualquer grupo, nem até que ponto as pessoas se calam para deixar de expressar a opinião. Com a suposta "liberdade de expressão", talvez essa realidade esteja mais distante.
Usando o mesmo raciocínio, a publicidade aparece como uma corrente que padroniza a sociedade, tenta convencer a cada um de que o produto/serviço exposto é a melhor opção, ditando a moda e causando, muitas vezes, a segregação social. Será que as pessoas usam e compram produtos de tal marca porque gostam mesmo? Ou elas se sentem excluídas quando não os usam? O silêncio que se encontra por trás da linguagem verbal e não-verbal dos anúncios e comerciais seduzem os receptores e silenciam a opinião. Só existe aquilo, e nada mais.